Como de costume, já deitada na cama, peguei meu caderno e minha caneta para escrever qualquer baboseira que ficaria guardada pegando poeira e nunca seria revelada.
Escrevi um texto medíocre, mas peguei no sono em cima do meu fiel escudeiro, o caderno.
O texto era assim:
"Gosto de ver, ou melhor, gosto de apreciar o sono alheio.
Pois é aonde a pessoa passa novamente ao seu estado de pureza.
Suas feições tornam-se leves como se seu rosto estivesse flutuando no céu.
É gostoso observar. Traz leveza para o seu coração.
E se você experimentar esse ato ao acordar, torna o seu dia o mais perfeito e tranquilo.
É como se a paz interior do sono do outro te embebedasse e você também passasse a viver naquela mesma paz.
Vibrando na mesma sintonia.
O mais gostoso é brincar de imaginar o que a outra pessoa está sonhando, pelas caras que ela faz.
Divertido.
Você se pega rindo sozinho. Naquele riso safado de quem sabe estar penetrando a intimidade alheia. O que de fato também se torna um tanto quanto apreciável.
Se você se concentrar, consegue entrar na mesma sintonia sonífera e assim, sonhar acordado."
Acordei de madrugada meio assustada. Olhei pro lado e lá estava o meu caderno com o meu texto. Só que não era só isso. Reparei que havia uma mensagem logo abaixo dele, que dizia o seguinte:
"Gostei do texto e da "brincadeira". Experimentei com você e acho eu, consegui te desvendar toda. Sim, um pouco pretencioso demais, mas quase nunca errado.
Ah! Sua letra é linda! Bons sonhos e até amanhã.
Juan"
Meu amigo, quando entrou, leu o que eu tinha escrito e só porque o sono não me permitiu, não joguei fora.
A única reação que tive foi dar um sorriso de canto de boca com aquela cara amassada, e murmurar um quase inaudível: obrigada.
Mas ficou uma certeza: agora eu sabia que ele me admirava.
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