sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mais uma vez

Fazia tanto tempo que não me palpitava o coração desse jeito, não ruborizava, assim, sem querer, a pele, o sorriso bobo não me saia da boca.
E foi simples assim, na primeira risada já parecia que eu seria inultimente capaz de parar, e você tão perto. As nossas mãos quase se tocaram e aí, foi magia.
O tempo, tão meu amigo, andou ao meu favor...passou tão devagarinho, e toda hora eu via você do meu lado, me fazendo sentir viva, ainda intensa, ainda a mesma amante às avessas de todos os amores.
Eu queria tanto te falar como o raio de sol que iluminava seu olho e o fazia brilhar te deixava tão grego, e o misto da risada com o sorriso, da voz com a sua misteriosa intensidade me fazia vibrar.
Eu parecia uma menina, sem externar, claro. Então, melhor dizendo, eu me sentia uma menina.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Onde está?

No cimento da minha poesia está a areia que a detsrói
No fogo do meu pensamento está a água que dissolve meus atos
Na delícia dos sentimentos está a amargura da auto-sabotagem
Na atitude ainda está a insegurança de menina
Na inteligência encontra-se o dissabor e a apreciação pela ignorância
No impulso ainda consigo medir meus atos e palavras colocando razão na emoção
No segredo guardado pela máscara, os meus olhos me traem e os revelam, como o brilho fundo que nele reluz
O orgulho da solidão dá passagem à carência mais sentida e a esperança, velada e pouco acreditada, ainda ecoa.
Porque no fim está o começo.

Ainda...

Presa
Estagnada
Ainda envolvida
Quando?
Por onde?
Com quem?
Como?
Ainda mexe
Ainda toca
Ainda vibra
Ainda dispara
Com o que?
Ainda imagina
Ainda ilude
Ainda pensa
Ainda perturba
Por que?
Grito preso na
                        garganta solta
Olhar distanciado
auto-censura
                     constante
Porque ainda lembra...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Experiência

Despidamente vestida eu me joguei nos braços de um desconhecido, me entreguei tanto que me perdi em mim mesma e foi difícil me achar de novo. Até agora estou procurando o meu eu, por inteiro, que eu deixei que levassem. Não sei quem nem o que, mas me tirou completamente. Chorei e ri sem saber o porque de o estar fazendo. Estranho, intenso e perturbador. Continua perturbada, um pouco assustada, sem saber que caminho tomar, o que esperar e como me levantar. Aos poucos vou tentando me encaixar em mim, acomodar a minha alma ao meu corpo. Ele rejeita, mas vai cedendo. Assim como a criança que no início rejeita a comida, mas depois cede, por perceber que é necessário. Alma e corpo se reencontrando Exótico, essencial, intenso. A interseção da alma nua com o corpo vestido.  

sábado, 2 de abril de 2011

Passagem

Na solidão em que me encontro, meus devaneios são minha única distração.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Nova revolução

Eu queria sim, ter vivido na época da revolução. Tenho alma, sangue e cara a tapa de revolucionária.
Eu queria ser um daqueles estudantes gritando por libertação de um governo ineficiente. Queria ser umas daquelas milhões de pessoas pedindo democracia.
Se fosse um pouco antes, seria uma idealista ferrenha e uma esquerdista por natureza. Seria uma daquelas tantas mulheres lutando por igualdade e junto com os homens, seria uma das tantas mulheres brasileiras que foram presas e "sutilmente" torturadas e reprimidas.
Teria sentido o peso de cada ato, mas o orgulho me impediria de desistir ou mudar de opinião.
Vim ao mundo "adulto" e vi que isso ainda existia, que ainda tinham pessoas movidas a ideiais e um pensamento de igualdade. Me perturbou - num bom sentido - um pouco, quase me deixei levar, segurei, pensei, amadureci.
Consegui perceber que essa sede por revoluções, manifestações, passeatas, gritos de ordem, que na época dos meus pais era uma forma de chamar atenção para as questões; hoje virou uma questão de vandalismo e violência, em muitos casos. Se deixarem, o bater panela vira bater no alvo mesmo. Os monumentos e espaços públicos (câmaras, prefeituras, reitorias, restaurantes) são os melhores alvos, não saem do lugar e nem revidam.
A palavra de ordem virou: quebradeira.
Esses jovens que estagnaram em meados na década de 60/70 e quem sabe 80 estão certos de que eles garantirão a valia de seus direitos através de violência. Quebrar tudo não é a solução. Chamar políticos corruptos, nacionais ou internacionais, de ditadores, imperialistas, xiitas e se ocuparem das idéias marxistas como bíblia, não faz mais parte do século em que eles estão inseridos, século da tecnologia, da inovação, da inteligência e cada vez mais, da arte.
É importante saber do que trata o socialismo e todas as outras correntes, é o saber que nunca pode ser descartado, por uma pura questão histórica-mundial. Mas o mais importante é saber do que se trata o direito de um cidadão, é se preencher de valores e caráter. Saber o que é respeito e saber até onde vai o limite dele.
Ainda acredito que podemos mudar muitas coisas. Acredito na revolução da inteligência, da mobilização juvenil-estudantil, nas intervenções artísticas se valendo de todos os meios de divulgação (vantagem sobre os anos revolucionários passados, que não os possuía).
Me assusta um pouco estudar em uma faculdade onde estamos cercados de poesia e arte, e existirem pessoas com um pensamento tão amarrado no que um dia já deu certo. E também só deu certo porque a política do "com ferro fere, com ferro será ferido" sempre se sobressairá, se eram tratados a tapas e pontapés, era com mais tapas e pontapés que seriam ouvidos.
Se hoje estamos vivendo numa política por trás dos panos, utilizemos dessa mesma política, só que com uma ajudinha da época inspiradora para nossos desbravadores, onde as pessoas sabiam driblar a censura e falar exatamente o que queriam.
Vamos criar. Fotografias, poemas, pinturas, esculturas, peças teatrais, livros, jornais, revistas, redes sociais!, grafites, programas.
A revolução pode ser feita, mas sobre um outro prisma, com inteligência e jogo de cintura.
Brigar só vai fazer com que sejamos encarados como vândalos e criaturas perigosas, sendo até, quem sabe, presos com  direito à cabelos raspados! Um ultraje!

terça-feira, 15 de março de 2011

Viva? (!)

Na verdade está me incomodando essa autosabotagem
Esse escreve não escreve ou esse não ter o que escrever
Ou, melhor dizendo, não saber sobre o que escrever

Me baseio em experiências e na troca delas,
nos amores esquecidos e mal resolvidos.
Me baseio nos sonhos, nas ilusões e no vivido de mentirinha

Se é a vida que me inspira chego à conclusão que não vivo mais?
Vivo numa incógnita constante, numa ilusão delirante ou numa realidade chocante?

Continuo viva.
Danço, canto, brinco, estudo, trabalho...
mas não escrevo mais, o que me mata por dentro.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um brinde com um outro autor

Elogio ao Amor
Miguel Esteves Cardoso

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá tudo bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, atristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”.
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não épara nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes.
Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá paraperceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Menina/mulher

A menina escondida na mulher.
A cabeça amadurecida, as responsabilidades (que já eram grandes e não acompanhavam a idade) cada vez mais exatas, presentes e ameaçadoras; a cobrança nítida, a vontade do prazer maduro e a simplicidade do não esconde-esconde.

A mulher tomando conta da menina.
Cheia de angústias, medos e, por quê não, frescurices; as dúvidas, as especulações somadas às ilusões e a síndrome de peter pan.

A menina sendo excluída pela mulher.
Agora uma mulher completa, com sonhos e buscando as suas realizações, posições e opiniões.

Mas....
...com vontade de ser menina.